sábado, 13 de março de 2010

Linha 420


Isso – diz o motorista quando entro no ônibus e pergunto se ele vai para Paraíso. Feliz e totalmente confiante no motorista, sento em uma poltrona e sigo ao máximo as regras: Não conversar, não fumar (fácil), não olhar a passageira ao lado, não ouvir música na viagem, não discutir com motorista; sob pena de ser preso para sempre. Estranhas, mas regras do jogo, ou melhor, empresa. As obedeci, pois, confiante que tudo daria certo.

E o carro “levanta vôo”! Derrepente, mesmo seguindo todas as ordens (as principais, pelo menos), o tal motorista se vira pra mim:

– Chegamos à cidade de Estranhópolis.

- Ham, mas eu queria é Paraíso!

– Sinto muito amigão, a linha era essa mesmo, só que nem sempre se passa por Paraíso...

Desci sem entender nada... Fiquei um sábado todo naquele lugar estranho olhando para os mapas, tentando descobrir como se chega a tão famosa cidade de Paraíso... Pelo mapa, a estrada era aquela mesmo, mas eu tinha que olhar para a passageira ao lado, a fim de ver que eu tinha que parar lá. Fui então à rodoviária novamente, peguei um ônibus de volta e, logo após ter dado partida, - Pash! Um funcionário da empresa me dá um tapa por olhar para “passageira” (apenas estrada, na verdade).

Peço então que o motorista pare quando for entrar em Paraíso. Ele diz “OK”. Tempos depois, chegamos... ao ponto final. Pergunto cadê Paraíso.

– Ah, ficou para trás...

Ai, ai, ai... Sem entender bulhufas, desci na cidade. Era Duvidolândia. Ai um cara me para.

– Amigo, você foi em Estranhópolis, né?

- Sim, mas como você sabe?

– Tô lembrado que quando ia para lá, você estava ao meu lado, ai desci em Paraíso e você seguiu estrada. Agora que voltava de lá, você se sentou ao meu lado denovo.

-Mas como você sabia onde tinha que descer para Paraíso?! sempre quis ir lá!

– Basta você olhar para a passageira ao lado, que você verá a placa e desce.

Mas aí resolvi ir à Lan-House, pesquisar as regras da empresa direito e os benefícios ao cliente. Meu Deus! Que maluquice! Não entendi nada! Conversei com pessoas que narravam conseqüências terríveis para quem desobedeceu as regras, mas dizem que só chegam aos destinos burlando-as. Apertei se eles tinham certeza das penalidades. Disseram que era o que “as pessoas” falavam... E agora? Eu leio que só chega a Paraíso seguindo as regras, aí vem quem diz que não segue as regras e chega lá! E quem diz é aquele passageiro que era, na minha imaginação, o exemplo número um em seguir regras!

Preciso acreditar que o destino escrito no letreiro de pelo menos alguns ônibus seja verdadeiro, mas não estou conseguindo acreditar que exista verdade em algo tão complicado. O problema em não acreditar nas regras, é que se elas estão erradas, sou tentado a ouvir música alta, conversar... quebrar as regras! O que não dá para entender é se o dono da empresa é cruel, exigindo que o passageiro olhe para o lado, mesmo sem poder, na falta de outra alternativa; ou se é algum subordinado que fez regras equivocadas. Espero que seja o funcionário quem errou, pois tenho que olhar para o lado, não posso evitar, e tenho certeza de que mereço chegar em Paraíso. As outras regras, na dúvida, vou seguir.