terça-feira, 23 de agosto de 2011

Gênero e tipologias- uma análise do texto de Patrick Charaudeau

O texto Gêneros e tipologias, quinto capítulo do livro Discurso das Mídias, de Patrick Charaudeau, apresenta uma classificação tipológica de gêneros informativos, analisando as características técnicas e discursivas de cada um deles. O capítulo está inserido em uma obra que trata do discurso midiático, abordando como ele é, na verdade, uma encenação midiática, tendo em vista que a possibilidade de escolher uma das várias formas para transmitir a informação, confere à mídia subjetividade.

O autor brevemente diferencia e explica os gêneros e tipologias. Segundo ele, o gênero é “constituido pelo conjunto das características de um objeto e constitui uma classe à qual o objeto pertence” (p. 204). Foram apresentados os três aspectos que determinam uma classe textual, o lugar de construção do sentido, que corresponde aos lugares de produção, recepção e do produto acabado; o grau de generalidade que são características textuais mais ou menos discriminantes. Mais gerais são menos discriminantes, como as funções da linguagem, os princípios gerais de organização dos textos (coerência, composição macroestruturante, etc). Menos gerais são mais discriminantes, como a classificação entre gêneros primários, simples e gêneros secundários. O outro aspecto é o modo de organização discursiva dos textos,que diferencia textos narrativos, descritivos, argumentativos, etc.

No tópico seguinte, Charaudeau aborda a definição do gênero de informação midiática que, segundo ele, é definido segundo o resultado do cruzamento entre um tipo de instancia enunciativa, um tipo de modo discursivo, um tipo de conteúdo e um tipo de dispositivo. A instância enunciativa caracteriza-se pela origem do falante e seu grau de implicação. O modo discursivo transforma o acontecimento midiático em notícia, organizando-se nas categorias “relatar o acontecimento”, “comentar o acontecimento” ou “provocar o acontecimento”. Isso permite, por exemplo, diferenciar reportagem de editorial.

Já o tipo de conteúdo temático é o macrodomínio social abordado pela notícia (política, ou cultura, por exemplo). O autor também ressaltou a diferença entre seção e rubrica. Seção são as grandes editorias e as rubricas são suas subdivisões. O tipo de dispositivo é o suporte midiático, o rádio, a Tv ou a imprensa.

Em seguida é discutido em mais profundidade a tipologia, que é o resultado de uma determinada classificação dos gêneros. Essa classificação é variável e depende da escolha das variáveis que se decide levar em conta, sendo que o uso de mais variáveis colabora com a compreensão da tipologia, mas prejudica a legibilidade. No caso do uso de menos variáveis, o efeito é contrário.O autor apresentou e comentou um exemplo de tipologia em que foram cruzados os principais modos discursivos, acontecimentos relatado, provocado ou comentado; com a instãncia enunciativa externa ou interna; e o grau de engajamento do falante.

Dentro desse quadro, foram inseridos vários gêneros jornalísticos que foram, pois, classificados. De forma interessante, o autor preveniu o leitor quanto a possibilidade de mudanças nessa tipologia devido às evoluções técnicas. Ele também questionou se as variações originam novos gêneros, subgêneros ou variações dos existentes. Apesar da necessidade de atualização, o estabelecimento deve ser o ato final, exigindo um trabalho prévio de descrição e análise.

Também é apresentada a característica do “contrato midiático”, que se desdobra em uma relação triangular entre a instância de informação, o mundo a comentar e a instância consumidora; e os desafios de visibilidade (para a informação atrair o receptor), da inteligibilidade (acessibilidade da informação) e o de espetacularização que é despertar interesse e emoção.

A entrevista também foi classificada no texto, que abordou as várias formas de diálogo humanos e jornalísticos de forma tão brilhante, reveladora e detalhada que merece ser lida diretamente no texto. Ainda sobre as entrevistas, o autor escreve sobre os problemas de credibilidade, devido a previsibilidade das respostas em entrevistas políticas, e a chance de que as respostas sejam escolhidas segundo a vontade da instancia emissora de informação.

Existe um paradoxo entre a necessidade de tempo para a explicação de temas complexos, e a necessidade de dinamismo para segurar a audiência, no caso de mídias eletrônicas. É interessante a análise feita acerca de reportagens e sua “autenticidade”. O autor também dedica páginas à analise dos gêneros da televisão, e a questão da reciprocidade e ao mesmo tempo independência da palavra e da imagem.

Também é interessante a explicação de cinco tipos de enunciação, a descrição-narração, a explicação, o testemunho, a proclamação e a contradição. Foi explicado como eles são utilizados na linguagem televisiva, que, aliás, pode ter três funções de imagem, as de designação, figuração e visualização; e, como instâncias de exibição a filmagem, montagem e topologia.

Após explanadas essas características, Charaudeau ilustra seu texto com a análise do ritual do telejornal e seu “caldeirão” de gêneros misturados. Ele comenta sobre a necessidade da televisão fazer o espectador se “reconhecer” na tela.

Ao fim do capítulo, são explicadas em mais profundidade as exigências de visibilidade, legibilidade e inteligibilidade na mídia impressa; as formas textuais nela, com ênfase no engajamento dos autores dos textos. Na última página é escrito algo importantíssimo, que as diferenças entre as estratégias discursivas dos veículos de mídia revelam o perfil dos leitores/receptores.

Destarte, o texto Gêneros e tipologias, quinto capítulo do livro Discurso das Mídias, de Patrick Charaudeau, é muito importante para estudantes e interessados nos discursos midiáticos, oferecendo informações relevantes que não cabem nesta resenha. A linguagem é simples, interessante e acessível, portanto, procure a obra e leia, pois vale a pena!

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