terça-feira, 23 de agosto de 2011

Os novos paradigmas nas eleições de 2010

Temos de lembrar que a festa provocada pelo presidente “Bossa Nova”, Juscelino Kubitschek, em seu “ensaio de P.A.C.”, o plano “50 anos em cinco”, escondia o início do grande endividamento do país que, por anos, atrasou o desenvolvimento brasileiro. JK investiu no cerrado, com a construção de Brasília. Lula investe na Alimentação e educação do povo. Será se Lula esconde algum preço pelo seus planos sociais, como Bolsa Família, de reestruturação das Universidades e de “Aceleração do Crescimento”? Um dia saberemos, pois, se houver um preço, o povo pagará.

Principalmente após o segundo mandato do petista Lula, fala-se menos de Vargas e JK, pois Lula fez uma administração um pouco semelhante ao que eles fizeram. Semelhanças não faltam. As tentativas de Lula criar um controle social de mídia, por exemplo, assemelha-se, mesmo que de longe, ao DIP de Vargas. A proximidade de Lula da paixão dos brasileiros, o futebol, lembra a proximidade de JK com a música, além dos planos de obras dos dois, como já citado.

O mandato de oito anos de Luis Inácio Lula da Silva está acabando. Neste ano acontecem eleições presidenciais, pela sexta vez após a redemocratização, além de eleições para deputados, senadores e governadores. A disputa entre Dilma e Serra é acirrada, pois nenhum candidato é tão amado quanto Lula, que possui hoje 83% de aprovação. O slogan da campanha de Serra, por exemplo, resume o bom momento político do país: “O Brasil pode mais”. Claramente tenta passar a ideia de que “mesmo o povo, e nós também, achando que está bom, o governo PSDB consegue fazer ainda mais”.

“Quem é que pode continuar tocando bem o Brasil para frente?” José Serra, com essa frase, admite o que só não é reconhecido por Fernando Henrique Cardoso, que o país está bem. Assim, o grande trabalho do marqueteiro tucano, Luiz Gonzáles, não é achar algo que prove que Dilma (ou Lula) se corrompeu. O desafio é analógico a convencer que o tetra-campeonato da Seleção na Copa de 1994 poderia ter sido ainda melhor e mais emocionante, ou seja, o desafio é convencer o eleitor de que Serra comandará o país pelo menos como Lula fez, mantendo, principalmente, o Bolsa Família.

Quando se fala sobre os slogans e como eles resumem o momento do país, basta comparar o “Brasil pode mais” de Serra, com “Collor, um novo tempo vai começar”. Hoje o que o povo menos quer é mudança, nem sonha com novo tempo. O que o eleitor quer é manutenção, diferente do cenário pós Sarney, em 1989, em que o povo queria sim mudança.

Uma característica da campanha tucana é não repetir agora o erro de 2006, com Geraldo Alckmin, quando com o slogan “Queremos um País Decente”, a campanha atacava a corrupção encontrada no governo Lula. Em primeiro lugar, o povo, em geral, não vê problemas em político que “Rouba, mas faz”. Em segundo, por que o recente escândalo do Democratas em Brasília, aliado de Serra, impede que a campanha ataque esse ponto. Seria o sujo falando do mal lavado.

Ainda aproveitando os slogans de campanha para analisar a situação política, basta lembrar que FHC, em 1994, com sua inesquecível mão de cinco dedos (isso, aparentemente para insultar Lula), prometia avanços sociais que nunca vieram em seus oito anos de governo, como vieram com Lula. Em 94, o slogan de FHC era “Gente em primeiro lugar”. Em 1998, prometendo que no segundo mandato sim, teria condições de fazer o Brasil avançar, emplacou o slogan “O Brasil não Pode Voltar Atrás. Avança, Brasil!” O eleitorado acreditou, se decepcionou e isso foi um grande apoio na vitória petista em 2002.

A realidade mudou, portanto, não adianta oferecer novidades como as campanhas anteriores faziam, prometendo “tempo novo”, “mudança”, “avanços”. O slogan que o eleitor parece querer é “Para continuar assim”. Quem conseguirá convencer que fará isso? A candidata apoiada pelo presidente que tem cerca de 80% de aprovação, ou o candidato do presidente do apagão, das privatizações, dos salários muito menores que os atuais e do descaso com a educação e o social?

Por falar em privatizações, na edição de 14 de março do Jornal da Globo, Arnaldo Jabor criticou Lula por não privatizar Aeroportos. Está ai um argumento para Serra. Não que deveria se privatizar aeroportos, mas talvez olhar essa possibilidade com mais carinho, pois de fato algumas privatizações deram certo. As rodovias, as operadoras de celular foram positivas. Ao contrário do que foi a telefonia fixa, serviços de satélite, Vale do Rio Doce...

O partido dos trabalhadores adota uma política de governo da “social democracia”, enquanto o Partido da Social Democracia Brasileira adota uma política neoliberal, do estado mínimo. Caso Serra adote um discurso de enxugamento do estado, provavelmente estará derrotado, pois os brasileiros necessitam sentir a presença do estado. A proposta da “esquerda antiga”, PT, por exemplo, já era de fortalecer o estado, mas a massa queria a presença dele, sem, com isso, perder sua liberdade e suas propriedades privadas, ou seja, nada de socialismo, mas nada de neoliberalismo. Lula nada mais fez do que equilibrar a presença do estado com as tendências de mercado.

Sobre a aversão brasileira ao socialismo, deve-se lembrar que isso foi percebido nas campanhas de 1989 e 1994, principalmente. Nessa época, Lula adotava uma postura agressiva e revolucionária que assustava a população que, mesmo abaixo da linha de pobreza, não estava em situação tão humilhante quanto estavam os camponeses da Rússia Czarista, pré revolução de 1917, e, portanto, tinha receio de perder suas posses, por mais modestas que fossem. Além disso, em um país majoritariamente católico, o comunismo é algo de que se deseja tanta distância quanto do Demônio.

Em 1998, FHC conseguiu derrotar Lula pela segunda vez, aproveitando-se de um momento de euforia com o sucesso do recente Plano Real. Logo após sua vitória, em “agradecimento” aos seus eleitores, promoveu um aumento de impostos. Por falar em plano real, Serra parece já ter percebido que criticar o Bolsa Família lhe trará tantos votos quanto trouxe para Lula, em 1994 e 1998, ao criticar o Real. Ou seja, seria um erro fatal.

Lula, em 2002, com seu discurso “Lula, paz e amor” e sua “Carta aos brasileiros”, para medo do empresariado, mas para a felicidade de um povo que reprovava fortemente o governo PSDB, que tenta, agora, voltar ao poder; ganha a eleição no segundo turno e tem um primeiro mandato mediano, repleto de equívocos e escândalos. Apesar disso, o fato de não querer “revolucionar” o país, com medidas radicais de esquerda, adotar uma postura centrista, seguindo boa parte da política econômica do governo FHC, e emplacar os programas “Fome Zero” e “Bolsa Família” garantem com que ele vença mais facilmente Geraldo Alckmin em 2006.

Os primeiros oito anos governados por um partido que não é de direita fez com que várias situações se modificassem. Aquela velha desculpa dos tucanos de que “não dá para fazer nada devido à dívida externa” acabou. Lula anunciou aos quatro ventos que a dívida com o FMI está paga. Se isso é verdade, não se sabe. Provavelmente Serra afirmaria que é mentira, mas é possível que a população não acredite. Outro ponto contra Serra é que os jovens universitários lembram como o ensino público foi sucateado no governo FHC. O medo disso também significa menos votos para o Tucano. Funcionários públicos também não vêem Serra com bons olhos.

Definitivamente, as eleições presidenciais de 2010 serão únicas, pois pela primeira vez não está em pauta nas campanhas mudanças, combate à corrupção, e aquele discurso comum de prometer Saúde, educação, segurança... O que está em pauta agora é como Serra vencer a euforia de um povo que, agora com Lula, tem TV de LCD, carro novo, casa própria. Não existe na massa da população sentimento de revolta com a corrupção e vontade de mudança. Receberá o voto do povo aquele que, pelo menos, convencer o eleitorado de que tudo será mantido ou que conseguir provar que tem como fazer melhor.

Por uma incrível ironia, Collor e Fernando Henrique venceram Lula entre 1989 e 1998 ao afirmarem que Lula mudaria demais. Hoje, em uma realidade com Lula, Collor, Sarney e PMDB juntos, a candidata Petista pode ganhar com esse mesmo discurso, o da manutenção. Dilma ou Serra, 13 ou 45? Essa resposta só mesmo depois da eleição.

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