Caminho das Índias
Falta de respeito às leis de trânsito em São João del-Rei
irrita população
A novela Caminho das Índias, da TV
Globo, mostrou como o trânsito no país oriental é caótico. Se as gravações
tivessem sido feitas na cidade mineira de São João del-Rei, cenas muito
parecidas também seriam vistas. Apesar de existirem leis de trânsito aqui no
Brasil, um somatório de falta de educação dos usuários, com problemas
estruturais da cidade faz com que motoristas, pedestres, ciclistas e
motociclistas estejam em constante risco. Os piores pontos são a Avenida Leite
de Castro e o centro da cidade. Na opinião do motorista Adilson Rodrigues “nem
pedestres, nem ciclistas e nem motoristas se respeitam”. Ele também considera
que ciclistas têm boa parcela de culpa na situação. “Chega-se a perder a
paciência com ciclistas que invadem as áreas destinadas a automóveis”, afirma
Rodrigues. O vendedor Nilton Barros, morador de Divinópolis, em visita à São
João del-Rei, percebe que "a educação no trânsito está muito aquém de
outras cidades. Muitos motoristas não tem o hábito de ligar a seta ou esperar
um pouco para a outra pessoa passar" Outro problema é que veículos,
principalmente caminhões, chegam a ocupar duas faixas das vias, travando o
tráfego. Para ele os problemas são as ruas estreitas, o grande número de
bicicletas e o desconhecimento da lei.
O ciclista Hebert Moreira, de 15 anos, morador da Colônia do
Marçal, admite que o trânsito está "uma bagunça" por culpa dos
próprios usuários, e que muitos ciclistas têm o mau hábito de entrar na frente
dos carros, mas ele se defende dizendo "só causam transtornos porque não
existem ciclovias na cidade". O pedestre Marcelo Mourão, que critica a
presença de carroças nas vias públicas, que, segundo ele, suja as ruas, e também
de carretas na área urbana. “É fato que a cidade é histórica, o que agrava
ainda mais a situação, mas se os usuários fossem educados, já seria um grande
passo”, afirma Marcelo. Ele também criticou a inexistência de ciclovias, e
disse que São João del-Rei é uma cidade onde os motoristas tem excessiva
pressa, não esperando a travessia de pedestres, e que os motoristas de
coletivos, muitas vezes, desrespeitam as leis de trânsito, fechando carros e
deixando de sinalizar suas manobras.
Veículos estacionados em
locais proibidos
Pare. Espere abrir o sinal. Não
estacione. Não pare. Ordens simples como essas são simplesmente ignoradas na
cidade. Realmente existem pontos da cidade em que faltam essas sinalizações,
mas o pior é que onde existe, existem também pessoas que não as respeitam. O
cruzamento de acesso ao Bairro Caieiras, por exemplo, que recentemente recebeu
a instalação de semáforos, é palco de constantes desrespeitos, tendo vários
motoristas e pedestres atravessando no momento em que o sinal está fechado. A
Guarda de Trânsito Mirim, Jéssica Guimarães, afirma que, durante a abordagem a
motoristas, chegou a ser desrespeitada por alguns que se recusavam a pagar a
taxa de estacionamento. Otimista, ela afirma “que dá pra mudar” através de
campanhas de conscientização.
O moto-taxista Antônio Vanderlei, há 15 anos na profissão, afirma
que todos têm que colaborar, mas admite que existem colegas sobre duas rodas
que correm muito, além de realizarem ultrapassagens pela direita. Ele concorda
que a falta de educação no trânsito ainda é grande, e que campanhas de conscientização
para motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres são urgentemente
necessárias. Antônio também reclama da falta de sinalização eficiente no
cruzamento da Avenida Tiradentes com a Avenida Ministro Gabriel Passos, e da
falta do uso de seta no trânsito. “Se inventaram a seta, é para se usar”,
ironiza. Contudo, ele comenta um fato positivo, que é a diminuição do
preconceito contra os motociclistas nos últimos tempos.
Bom trânsito é lei
“O trânsito de São João del-Rei carece de muitas intervenções”,
opina o Comandante do Batalhão de Polícia Militar da cidade, Tenente Coronel
Milton Costa. Ele afirma que o índice de atropelamentos é muito alto, e atribui
isso ao fato de as calçadas serem estreitas, a falta de faixas de pedestres e o
desrespeito às existentes. “Criou-se uma cultura de desrespeito à lei na
cidade”, comenta.
Ele afirma que, de acordo com a Constituição Federal, o dever da
polícia é apenas de verificar a condição regular do condutor e do veículo
através de uma blitz. O combate aos desrespeitos às leis de trânsito ficaria a
cargo da Guarda Municipal. Como ela não existe na cidade, a PM cumpre esse
papel, porém dentro das possibilidades dela. “Infelizmente, eu não posso deixar
de combater tráfico de drogas e furtos para cuidar de trânsito. É obrigação da
prefeitura”, explica.
A PM toma medidas como a promoção de palestras em escolas,
colocação de faixas educativas nas vias públicas e orientação dos motoristas.
Para ele, é urgente a revisão do sistema de tráfego e da sinalização,
realização de maciças campanhas educativas, principalmente com jovens e,
finalmente a fiscalização. Isso, segundo ele, após a municipalização do
trânsito, que é imprescindível para a amenização dos problemas. Ele ressalta a
importância do transporte coletivo e da priorização do pedestre frente aos
carros, e lembra que bicicletas são veículos como qualquer outro e devem
obedecer as leis do Código de Trânsito Brasileiro.
O setor de transportes da prefeitura de São João del-Rei foi
procurado para comentar as suas obrigações perante o trânsito, no entanto o
chefe do setor, Valdo Alves, não foi encontrado e nem respondeu os e-mails a
ele enviados. A única informação que foi passada pela atendente do setor,
Isabela Carazza, é que “ainda não existem previsões para a criação da guarda
municipal”.
Reportagem: Bruno Ribeiro
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