sexta-feira, 18 de maio de 2012


Caminho das Índias
Falta de respeito às leis de trânsito em São João del-Rei irrita população

A novela Caminho das Índias, da TV Globo, mostrou como o trânsito no país oriental é caótico. Se as gravações tivessem sido feitas na cidade mineira de São João del-Rei, cenas muito parecidas também seriam vistas. Apesar de existirem leis de trânsito aqui no Brasil, um somatório de falta de educação dos usuários, com problemas estruturais da cidade faz com que motoristas, pedestres, ciclistas e motociclistas estejam em constante risco. Os piores pontos são a Avenida Leite de Castro e o centro da cidade. Na opinião do motorista Adilson Rodrigues “nem pedestres, nem ciclistas e nem motoristas se respeitam”. Ele também considera que ciclistas têm boa parcela de culpa na situação. “Chega-se a perder a paciência com ciclistas que invadem as áreas destinadas a automóveis”, afirma Rodrigues. O vendedor Nilton Barros, morador de Divinópolis, em visita à São João del-Rei, percebe que "a educação no trânsito está muito aquém de outras cidades. Muitos motoristas não tem o hábito de ligar a seta ou esperar um pouco para a outra pessoa passar" Outro problema é que veículos, principalmente caminhões, chegam a ocupar duas faixas das vias, travando o tráfego. Para ele os problemas são as ruas estreitas, o grande número de bicicletas e o desconhecimento da lei.
O ciclista Hebert Moreira, de 15 anos, morador da Colônia do Marçal, admite que o trânsito está "uma bagunça" por culpa dos próprios usuários, e que muitos ciclistas têm o mau hábito de entrar na frente dos carros, mas ele se defende dizendo "só causam transtornos porque não existem ciclovias na cidade". O pedestre Marcelo Mourão, que critica a presença de carroças nas vias públicas, que, segundo ele, suja as ruas, e também de carretas na área urbana. “É fato que a cidade é histórica, o que agrava ainda mais a situação, mas se os usuários fossem educados, já seria um grande passo”, afirma Marcelo. Ele também criticou a inexistência de ciclovias, e disse que São João del-Rei é uma cidade onde os motoristas tem excessiva pressa, não esperando a travessia de pedestres, e que os motoristas de coletivos, muitas vezes, desrespeitam as leis de trânsito, fechando carros e deixando de sinalizar suas manobras.

Veículos estacionados em locais proibidos
Pare. Espere abrir o sinal. Não estacione. Não pare. Ordens simples como essas são simplesmente ignoradas na cidade. Realmente existem pontos da cidade em que faltam essas sinalizações, mas o pior é que onde existe, existem também pessoas que não as respeitam. O cruzamento de acesso ao Bairro Caieiras, por exemplo, que recentemente recebeu a instalação de semáforos, é palco de constantes desrespeitos, tendo vários motoristas e pedestres atravessando no momento em que o sinal está fechado. A Guarda de Trânsito Mirim, Jéssica Guimarães, afirma que, durante a abordagem a motoristas, chegou a ser desrespeitada por alguns que se recusavam a pagar a taxa de estacionamento. Otimista, ela afirma “que dá pra mudar” através de campanhas de conscientização.
O moto-taxista Antônio Vanderlei, há 15 anos na profissão, afirma que todos têm que colaborar, mas admite que existem colegas sobre duas rodas que correm muito, além de realizarem ultrapassagens pela direita. Ele concorda que a falta de educação no trânsito ainda é grande, e que campanhas de conscientização para motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres são urgentemente necessárias. Antônio também reclama da falta de sinalização eficiente no cruzamento da Avenida Tiradentes com a Avenida Ministro Gabriel Passos, e da falta do uso de seta no trânsito. “Se inventaram a seta, é para se usar”, ironiza. Contudo, ele comenta um fato positivo, que é a diminuição do preconceito contra os motociclistas nos últimos tempos.
Bom trânsito é lei
“O trânsito de São João del-Rei carece de muitas intervenções”, opina o Comandante do Batalhão de Polícia Militar da cidade, Tenente Coronel Milton Costa. Ele afirma que o índice de atropelamentos é muito alto, e atribui isso ao fato de as calçadas serem estreitas, a falta de faixas de pedestres e o desrespeito às existentes. “Criou-se uma cultura de desrespeito à lei na cidade”, comenta.
Ele afirma que, de acordo com a Constituição Federal, o dever da polícia é apenas de verificar a condição regular do condutor e do veículo através de uma blitz. O combate aos desrespeitos às leis de trânsito ficaria a cargo da Guarda Municipal. Como ela não existe na cidade, a PM cumpre esse papel, porém dentro das possibilidades dela. “Infelizmente, eu não posso deixar de combater tráfico de drogas e furtos para cuidar de trânsito. É obrigação da prefeitura”, explica.
A PM toma medidas como a promoção de palestras em escolas, colocação de faixas educativas nas vias públicas e orientação dos motoristas. Para ele, é urgente a revisão do sistema de tráfego e da sinalização, realização de maciças campanhas educativas, principalmente com jovens e, finalmente a fiscalização. Isso, segundo ele, após a municipalização do trânsito, que é imprescindível para a amenização dos problemas. Ele ressalta a importância do transporte coletivo e da priorização do pedestre frente aos carros, e lembra que bicicletas são veículos como qualquer outro e devem obedecer as leis do Código de Trânsito Brasileiro.
O setor de transportes da prefeitura de São João del-Rei foi procurado para comentar as suas obrigações perante o trânsito, no entanto o chefe do setor, Valdo Alves, não foi encontrado e nem respondeu os e-mails a ele enviados. A única informação que foi passada pela atendente do setor, Isabela Carazza, é que “ainda não existem previsões para a criação da guarda municipal”.
Reportagem: Bruno Ribeiro

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