sexta-feira, 18 de maio de 2012


O senhor do tempo
O poder de dominar o tempo é um antigo sonho do ser humano. Em São João del-Rei um homem tem esse “poder” nas mãos. Marcos Mendes (59), auxiliar de escritório, é quem faz os ajustes no relógio holandês da bicentenária Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, no centro da cidade.
Marcos diz que começou a freqüentar a igreja em 1961, ainda com nove anos. Na época, só aprendeu a repicar os sinos. Em 1972, deixou de tocá-los, segundo ele, “por estar velho para a função. Resolvi deixar para os meninos, já tinha 20 anos de idade”, diz. Mas ele ainda sabe de cor todos os toques e, ainda hoje, volta a tocar os sinos em alguma emergência, por exemplo, quando faltam sineiros.
O convite para ser o zelador do relógio só veio em 1998, a pedido do então pároco da Catedral do Pilar, Monsenhor Paiva. Foi prontamente aceito. “Antes eram algumas crianças que acertavam o relógio, então me pediram para assumir essa responsabilidade”, completou Marcos.
Todos os dias entre 9h30 e 11h, Mendes vai até a igreja para dar corda no relógio. Para ele é um privilégio ter essa responsabilidade: “Moro perto da matriz, para mim não é nenhum sacrifício ir até lá e dar corda. Muitas pessoas se orientam por ele”, explica.
É o caso do Turismólogo João Paulo Vilella, 30. Ele conta que o hábito começou quando ainda era criança. “Lembro quando ganhei meu primeiro Orient, a primeira coisa que fiz, foi correr até lá para acertar as horas”.
Já a auxiliar administrativa Alessandra Oliveira, 37, diz que seus filhos só começam a se arrumar para a escola quando ouvem as 12 badaladas do meio-dia. “É muito engraçado, eu nem preciso falar com eles, é automático: quando eles ouvem os sinos tocarem o meio-dia, já vão para o quarto e vestem o uniforme”.
Hora Certa
Marcos Mendes conta que, das igrejas mais antigas, a Matriz é a única que tem um relógio em funcionamento. “Se não ouço o sino tocar na hora certa, vou rapidinho até lá para saber o que está acontecendo. Tem gente que até liga para minha casa avisando que o relógio parou”. O zelador diz que a manutenção é feita por outras pessoas e as peças de reposição são confeccionadas, às vezes, na própria cidade.
Assim como os outros sinos da cidade, os do relógio também falam. Após os primeiros 15 minutos da hora, o sino com som mais agudo, dá uma batida. Na metade da hora, o mesmo sino bate o número de vezes correspondente à hora seguinte. Por exemplo, às 6h30 ele bate sete vezes; às 19h30, bate oito vezes. Já no último quarto de hora é a vez do sino com som grave bater uma vez, e na hora exata o mesmo sino bate o número de vezes da hora correspondente.

Bruno Ribeiro e Marcelo Alvarenga

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