O
senhor do tempo
O poder de dominar o
tempo é um antigo sonho do ser humano. Em São João del-Rei um homem tem esse “poder” nas
mãos. Marcos Mendes (59), auxiliar de escritório, é quem faz os ajustes no
relógio holandês da bicentenária Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar,
no centro da cidade.
Marcos diz que começou a
freqüentar a igreja em 1961, ainda com nove anos. Na época, só aprendeu a
repicar os sinos. Em 1972, deixou de tocá-los, segundo ele, “por estar velho
para a função. Resolvi deixar para os meninos, já tinha 20 anos de idade”, diz.
Mas ele ainda sabe de cor todos os toques e, ainda hoje, volta a tocar os sinos
em alguma emergência, por exemplo, quando faltam sineiros.
O convite para ser o
zelador do relógio só veio em 1998,
a pedido do então pároco da Catedral do Pilar, Monsenhor
Paiva. Foi prontamente aceito. “Antes eram algumas crianças que acertavam o
relógio, então me pediram para assumir essa responsabilidade”, completou Marcos.
Todos os dias entre 9h30
e 11h, Mendes vai até a igreja para dar corda no relógio. Para ele é um
privilégio ter essa responsabilidade: “Moro perto da matriz, para mim não é
nenhum sacrifício ir até lá e dar corda. Muitas pessoas se orientam por ele”,
explica.
É o caso do Turismólogo
João Paulo Vilella, 30. Ele conta que o hábito começou quando ainda era
criança. “Lembro quando ganhei meu primeiro Orient, a primeira coisa que fiz,
foi correr até lá para acertar as horas”.
Já a auxiliar
administrativa Alessandra Oliveira, 37, diz que seus filhos só começam a se arrumar
para a escola quando ouvem as 12 badaladas do meio-dia. “É muito engraçado, eu
nem preciso falar com eles, é automático: quando eles ouvem os sinos tocarem o
meio-dia, já vão para o quarto e vestem o uniforme”.
Hora
Certa
Marcos Mendes conta que,
das igrejas mais antigas, a Matriz é a única que tem um relógio em
funcionamento. “Se não ouço o sino tocar na hora certa, vou rapidinho até lá
para saber o que está acontecendo. Tem gente que até liga para minha casa
avisando que o relógio parou”. O zelador diz que a manutenção é feita por
outras pessoas e as peças de reposição são confeccionadas, às vezes, na própria
cidade.
Assim como os outros
sinos da cidade, os do relógio também falam. Após os primeiros 15 minutos da
hora, o sino com som mais agudo, dá uma batida. Na metade da hora, o mesmo sino
bate o número de vezes correspondente à hora seguinte. Por exemplo, às 6h30 ele
bate sete vezes; às 19h30, bate oito vezes. Já no último quarto de hora é a vez
do sino com som grave bater uma vez, e na hora exata o mesmo sino bate o número
de vezes da hora correspondente.
Bruno Ribeiro e Marcelo Alvarenga
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