Todos
que querem ser presidente
Tiro
no pé é como pode-se classificar a tentativa do PSDB de utilizar o caso da
quebra do sigilo fiscal de Verônica
Serra, filha do candidato à presidência José Serra. Além de não gerar impacto
eleitoral, aumentou a rejeição a José Serra e trouxe à tona as denúncias de que
o escândalo foi provocado por pessoas ligadas ao seu colega de partido, o
ex-governador mineiro, Aécio Neves.
A
causa do fracasso do uso eleitoral do escândalo se deve a diversos fatores. O
primeiro é que a população em massa sequer sabe o que é Declaração de Imposto
de Renda. Segundo o Data Folha, apenas 57% dos eleitores tomaram conhecimento
das denuncias. Desses, apenas 12% se consideram bem informados sobre o caso.
Os
eleitores que podem ser afetados pelo escândalo são, pois, bem informados. Geralmente,
eles procuram mais fontes sobre casos desse tipo e, por isso, descobriram que
Serra já sabe da quebra de sigilo desde o ano passado. Ele teria guardado a
denúncia esse tempo todo, para usar eleitoralmente. Isso fez a candidatura
Tucana perder credibilidade, justamente perante quem se informou mais sobre o
caso da Receita.
Para
piorar a situação de Serra, surgiram as suspeitas de que a invasão das
declarações da Receita teria sido encomendada pelo jornalista Amaury Ribeiro
Júnior, então no jornal Estado de Minas. O jornal apóia Aécio Neves que, à
época da quebra dos sigilos, estava disputando com Serra a vaga de candidato à
presidência pelo PSDB. Ou seja, Dilma não teria culpa alguma, e sim um jornal
ligado ao PSDB.
Também
deve-se atentar ao fato de que não foi violado apenas o sigilo fiscal de
Verônica Serra. Foram dezenas de declarações invadidas, inclusive da
apresentadora da TV Globo, Ana Maria Braga. O resultado eleitoral é que a
rejeição de Serra passou de cerca de 30% para 40% após o PSDB fazer tanto
alvoroço com o caso. Outro dado relevante é que o invasor das declarações é um contador com amplo histórico de falcatruas Ele,
inclusive, se diz eleitor de Serra. Ou seja, foi tiro no pé mesmo!
O
escândalo das invasões da receita é muito grave sim, mas o uso eleitoral por
Serra para atacar Dilma foi, se não um erro, um desespero. Além de não haver
apelo eleitoral, inexistiam indícios de culpa da candidata Dilma. Para piorar a
situação de Serra, a imprensa que, tradicionalmente, apóia o PSDB estava
dividida. Folha de São Paulo e Veja condenam enfaticamente o PT, enquanto a
Globo, a mais importante, teve, inteligentemente, mais cautela na cobertura.
Ficou
evidente, também, a “apelação” com o caso, que lembrou o escândalo dos
Aloprados, na eleição presidencial de 2006 (em que petistas teriam comprado um
dossiê contra Tucanos). Na ocasião, usaram o caso e conseguiram levar o pleito
para o segundo turno. Contudo, foi provado que Lula não teve envolvimento no caso
e ele venceu a eleição.
Portanto,
do escândalo da receita Dilma se saiu praticamente ilesa. Porém, o que abalou,
de fato, a campanha de Dilma Rousseff à presidência foi o escândalo envolvendo
a ex-ministra chefe da Casa Civil, Erenice Guerra. O interessante é observar
que as pesquisas apontam que o caso não beneficiou em praticamente nada José
Serra. Quem ganhou alguns milhares de votos após o escândalo foi a
presidenciável pelo Partido Verde, Marina Silva.
O
crescimento da candidatura de Marina Silva indica aos brigões Dilma e Serra que
plantar escândalos na mídia não tem rendido votos. A solução mais plausível
para José Serra virar o jogo e para Dilma segurar seus altos índices é
apresentar propostas. Todos sabem o Lula que tem e, possivelmente, só propostas
com elementos realmente novos ganharão votos. Projetos de governo. Isso sim
pode dar votos. Quebra de sigilo fiscal de filha do Serra? Ah, isso não me
afeta em nada...
Bruno Ribeiro
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