sexta-feira, 18 de maio de 2012


Contradições internas e resquícios da ditadura: uma análise sobre o Partido Progressista (PP)

Bruno Ribeiro e Marcelo Alves

O Partido Progressista (PP) é um partido de centro-direita fundado em 1995. As suas raízes remetem ao Partido Democrático Social (PDS), herdeiro da Aliança Renovadora Nacional (Arena), legenda que apoiou o regime ditatorial brasileiro. A sua postura ideológica transita entre o neoliberalismo e o centro-esquerdismo. Se durante a ditadura militar e nos anos 80, a legenda era uma das mais fortes no cenário político, a situação é bem diferente no contexto eleitoral de 2010. O PP foi um dos partidos que saiu mais enfraquecido da disputa. Manteve uma postura de apoio informal à candidata Dilma Rousseff (PT), não elegeu nenhum governador e na Câmara terá apenas 41 deputados federais, mantendo a mesma bancada de 2006.
Quanto ao posicionamento político e ideológico do PP, há posições contraditórias no partido. Muitos de seus integrantes mais antigos consideram a ditadura um período positivo do Brasil. No entanto, nas eleições de 2010, a legenda aliou-se à frente de centro-esquerda liderada pelo PT. Nos estados, adotou posturas contraditórias. Em Minas Gerais, por exemplo, indicou o deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Alberto Pinto Coelho, para a vaga de candidato a vice-governador de Antônio Anastasia (PSDB).
Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente nacional do PP, Francisco Dornelles (RJ), declarou que não foi formada uma coligação formal, na medida em que nem todos os diretórios estaduais da legenda concordam com a decisão nacional. Isso ficou evidente no posicionamento contraditório do partido em algumas unidades da federação. Em cinco estados, Rio Grande do Sul, Minas, Paraná, Rondônia e Alagoas, o PP apoiou o candidato do PSDB à Presidência, José Serra (PSDB). Outros dois diretórios, São Paulo e Santa Catarina, tiveram uma postura neutra.
No segundo turno da disputa presidencial, as contradições continuaram. O diretório nacional do PP anunciou apoio irrestrito à candidatura de Dilma. Já o PP-MG foi contra a decisão e declarou estar do lado de José Serra na corrida ao Palácio do Planalto. O presidente estadual do PP de Minas Gerais, deputado Alberto Pinto Coelho, explicou que os progressistas mineiros tomaram essa decisão para “manter a aliança vitoriosa no Estado, ao lado do governador reeleito Antonio Anastasia (PSDB) e dos senadores eleitos Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS)”. Alberto Pinto Coelho foi eleito vice-governador na chapa de Anastasia.
Antes de Índio da Costa (DEM) ser escolhido vice na chapa presidencial do PSDB, o presidente nacional do PP chegou a ser cogitado para a vaga. Mesmo assim, Dornelles alegou que o PP encontrou objetivos comuns ao compor a coligação petista: desenvolvimento econômico, estabilidade monetária e justiça social. Além disso, durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, os progressistas colaboraram com o governo, sendo que o PP participa do Executivo Federal comandando o Ministério das Cidades, função exercida por Márcio Fortes. Ao falar de Dilma, Dornelles tece elogios a sua posição estratégica na condução dos principais programas do governo Lula.

Eleições 2010
Governador
Em Minas, que é o segundo maior colégio eleitoral brasileiro, o PP garantiu a vaga de candidato a vice-governador na chapa de Antônio Anastasia. A escolha de Alberto Pinto Coelho para vaga de vice do governador Anastasia demonstra a força que o PP tem em Minas, já que a vaga era pleiteada também pelos Democratas (DEM). Segundo entrevista do governador eleito ao jornal Estado de Minas em junho, pesou a favor de Alberto o apoio que o PP tem dos parlamentares mineiros.
Analisando em âmbito nacional, em geral, pode-se dizer que o partido saiu enfraquecido por não ter conseguido eleger nenhum governador. No segundo turno, teve a chance de eleger Neudo Campos, que acabou derrotado por poucos votos em Roraima numa disputa muita acirrada com Anchieta Júnior (PSDB). O partido amargou duas derrotas importantes. Em São Paulo, tradicional estado do PP e terra de Paulo Maluf, o candidato Celso Russomano ficou em terceiro lugar. Em Santa Catarina, a candidata Ângela Amim, esposa de Espiridião Amim, perdeu para o Democrata Raimundo Colombo. Apesar das derrotas, o PP esteve aliado a coligações que saíram vitoriosas em 11 estados - Amazonas, Acre, Mato Grosso, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Alagoas e Minas Gerais.

Senadores
Em 2010, o PP conseguiu eleger quatro senadores da República: Ivo Cassol em Rondônia; Ciro Nogueira no Piauí; Benedito de Lira em Alagoas; Ana Amélia Lemos no Rio Grande do Sul, reforçando ainda mais o poder do partido no estado. Além disso, o PP participou de coligações vitoriosas em vários estados, inclusive em Minas, onde esteve na chapa que elegeu Aécio e Itamar. Na eleição de 2006, o PP elegeu Francisco Dornelles e ele continua no poder até 2014. Portanto, o partido cresceu no Senado com as últimas eleições, pois saltou de apenas um para cinco senadores.

Deputados federais e estaduais
O PP conseguiu eleger 41 deputados federais em todo o Brasil, sendo que cinco são de Minas Gerais: Toninho Pinheiro (179.649 votos), Dimas Fabiano (146.061), Márcio Reinaldo (124.551), Luiz Fernando (105.422) e Renzo Braz (102.413). É importante salientar que, em Minas, o PP participou de coligação com PR, PPS, DEM e PSDB, que elegeu um total de 25 deputados federais, o que fortalece o PP.
            Nos estados em que o PP obteve melhor votação foi no Rio Grande do Sul, em que elegeu seis deputados (Luís Carlos Heinze, Covatti, José Otávio Germano, Renato Molling, Afonso Hamm e Jerônimo Goergen), na Bahia, com quatro deputados eleitos (Mário Negromonte, João Leão, Luiz Argolo e Roberto Brito) e três deputados na Paraíba (Aguinaldo Ribeiro, Eduardo da Fonte e Roberto Teixeira), no Paraná (Cida Borghetti, Nelson Meuer e Dirceu Sperafico) e no Rio de Janeiro (Jair Bolsonaro, Júlio Lopes e Simão Sessim).
            Nos demais estados, o PP teve uma votação pouco expressiva: São Paulo (Missionário José Olimpio e Aline Correia), Goiás (Roberto Balestra e Odacir Zonta), Amazonas (Rebecca Garcia e Carlos Souza) e Distrito Federal (Izalci e Roberto Fonseca), em que elegeu dois deputados. No Acre (Gladson Cameli), em Alagoas (Arthur Lira), no Ceará (Padre Zé), no Maranhão (Waldir Maranhã), no Mato Grosso (Eliene Lima), no Pará (Josué Bengston), no Piauí (Iracema Portela), em Rondônia (Carlos Margno) e em Tocantis (Lázaro Botelho), o PP garantiu apenas uma vaga.
Analisando o cenário, pode-se perceber que o partido tem bastante força no Rio Grande do Sul, onde elegeu seis parlamentares; em Minas, com cinco vitoriosos e na Bahia, em que quatro pepistas se elegeram deputados. Deve preocupar a cúpula da legenda a queda em São Paulo, estado que elegeu, em 2010, apenas dois congressistas. Em 2006, o número foi de seis eleitos no estado.
Para a Assembleia Legislativa de Minas, o partido conseguiu eleger apenas Gil Pereira, que obteve 95.450 votos. No entanto, o partido se manteve forte na assembléia por ter se coligado com o DEM e com o PSDB, coligação direitista que elegeu um total de 18 parlamentares em Minas. O PP só teve boa votação no Rio Grande do Sul (sete deputados estaduais eleitos), Santa Catarina e Bahia (seis em cada estado), e Mato Grosso (cinco deputados para a Assembleia). Nos outros estados, o PP elegeu um número reduzido de deputados, como no Rio de Janeiro e São Paulo: três deputados (Amazonas), dois deputados (Rio de Janeiro, Acre, Amapá, Maranhão), um deputado (São Paulo, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Paraná, Piauí, Rondônia, Roraima, Sergipe, Tocantins) e nenhum deputado (Alagoas, Ceará, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Norte).

Votação no Campo das Vertentes
A região tem uma situação paradoxal para o PP, já que o Senador pelo Rio de Janeiro e presidente nacional da sigla, Francisco Dornelles, tem parentes em São João del-Rei. No entanto, a cidade não tem um diretório do partido. Dornelles é sobrinho de Tancredo Neves e mantém forte amizade com o senador eleito Aécio Neves. O último presidente do partido na cidade foi o empresário Fernando Magno. Procurado pela reportagem, ele não quis contar como foi sua curta presidência de dois meses e como o diretório acabou.
Sobre a situação do partido em São João del-Rei, o prefeito de Santa Cruz de Minas, José Antônio dos Santos, o Padre, opina que o insucesso do PP na cidade vizinha deve-se a um “racha” entre Dimas Fabiano e Luiz Fernando, que disputavam a liderança na cidade. Segundo o prefeito, isso dividiu o partido e enfraqueceu a legenda. Santos entrou no partido há seis anos, após divergências políticas com seu antigo partido, o PFL, atual Democratas.
São João del-Rei é marcada pelos governos atribulados, que envolvem vários processos judiciais, de Nivaldo José de Andrade (PMDB). O político apoiou o PSDB nas eleições de 2010, mesmo contra a resolução nacional de seu partido, que compõe a aliança de Dilma Rousseff. Nivaldo, que já foi do PP, governou São João por três vezes, não consecutivas, foi prefeito de Tiradentes e deputado estadual.
Na cidade, muitos integrantes do PP ainda se dizem de extrema-direita. O empresário filiado ao PP, José Rivetti Pereira, enfatizou que sempre se identificou com a ideologia do partido, desde suas origens na Arena. Ao analisar a política contemporânea brasileira, ele adota tom crítico e afirma que “o Brasil precisa de uma Revolução como a de 1964. Hoje está tudo uma bagunça”.
Rivetti, que é nostálgico, contou que pensa em sair do PP para se unir a antigos companheiros e refundar o PDS em São João del-Rei. Analisando governos, Rivetti considera que Lula teve um bom desempenho no Planalto. O pepista ainda comenta que, após a saída de Nivaldo do PP, o atual prefeito não realizou bons mandatos.
O PP é a agremiação de alguns vereadores de municípios da região. As Câmaras Municipais das cidades de Bom Sucesso e Santa Cruz de Minas, tem, cada uma, um vereador do PP. Em Passa Tempo, Piedade do Rio Grande, Ritápolis e Tiradentes, o número de Pepistas sobe para dois, em cada Câmara.

História do partido
O PP é um partido de contradições, rachas e brigas internas. Esse cenário vem da criação do PSD, em 31 de janeiro de 1980, após o fim do sistema partidário. O PDS tinha dentre seus filiados José Sarney e Fernando Collor, dois futuros Presidentes da República, sendo que o senador maranhense foi confirmado como presidente do partido em 28 de fevereiro de 1980, cargo que ocupou por quatro anos. Nas eleições indiretas que culminaram com a escolha de Tancredo Neves e José Sarney, o partido se dividiu entre o apoio às candidaturas de Paulo Maluf e Mário Andreazza. Escolhido Maluf, uma parcela do partido se desligou indo formar o PFL.
A história da agremiação teve fim em 4 de abril de 1993 quando este se fundiu ao PDC para criar o Partido Progressista Reformador (PPR), presidido pelo senador catarinense Espiridião Amin. Dois anos mais, a legenda tarde fundiu-se com o Partido Popular, criando o PPB e, finalmente, em 04 de abril de 2003, por iniciativa de convenção nacional, alterou o seu nome para PP (Partido Progressista).
A ideologia do PP se aproxima de uma postura de centro-direita. O partido defende a liberdade das regras de mercado e a não intervenção estatal, ao mesmo tempo em que advoga por uma ação econômica que leve em conta valores sociais, como a distribuição de renda, por meio de geração de empregos e do funcionamento da economia social de mercado. Paradoxalmente, o PP hoje é um dos aliados do PT de Dilma que defende políticas de centro-esquerda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário