Contradições internas e resquícios da ditadura: uma análise sobre o Partido Progressista (PP)
Bruno Ribeiro e Marcelo Alves
O
Partido Progressista (PP) é um partido de centro-direita fundado em 1995. As
suas raízes remetem ao Partido Democrático Social (PDS), herdeiro da Aliança
Renovadora Nacional (Arena), legenda que apoiou o regime ditatorial brasileiro.
A sua postura ideológica transita entre o neoliberalismo e o
centro-esquerdismo. Se durante a ditadura militar e nos anos 80, a legenda era uma das mais
fortes no cenário político, a situação é bem diferente no contexto eleitoral de
2010. O PP foi um dos partidos que saiu mais enfraquecido da disputa. Manteve
uma postura de apoio informal à candidata Dilma Rousseff (PT), não elegeu
nenhum governador e na Câmara terá apenas 41 deputados federais, mantendo a
mesma bancada de 2006.
Quanto
ao posicionamento político e ideológico do PP, há posições contraditórias no
partido. Muitos de seus integrantes mais antigos consideram a ditadura um
período positivo do Brasil. No entanto, nas eleições de 2010, a legenda aliou-se à
frente de centro-esquerda liderada pelo PT. Nos estados, adotou posturas
contraditórias. Em Minas
Gerais , por exemplo, indicou o deputado estadual e presidente
da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Alberto Pinto Coelho, para a
vaga de candidato a vice-governador de Antônio Anastasia (PSDB).
Em
entrevista ao Valor Econômico, o presidente nacional do PP, Francisco
Dornelles (RJ), declarou que não foi formada uma coligação formal, na medida em
que nem todos os diretórios estaduais da legenda concordam com a decisão
nacional. Isso ficou evidente no posicionamento contraditório do partido em
algumas unidades da federação. Em cinco estados, Rio Grande do Sul, Minas,
Paraná, Rondônia e Alagoas, o PP apoiou o candidato do PSDB à Presidência, José
Serra (PSDB). Outros dois diretórios, São Paulo e Santa Catarina, tiveram uma
postura neutra.
No
segundo turno da disputa presidencial, as contradições continuaram. O diretório
nacional do PP anunciou apoio irrestrito à candidatura de Dilma. Já o PP-MG foi
contra a decisão e declarou estar do lado de José Serra na corrida ao Palácio
do Planalto. O presidente estadual do PP de Minas Gerais, deputado Alberto
Pinto Coelho, explicou que os progressistas mineiros tomaram essa decisão para
“manter a aliança vitoriosa no Estado, ao lado do governador reeleito Antonio
Anastasia (PSDB) e dos senadores eleitos Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco
(PPS)”. Alberto Pinto Coelho foi eleito vice-governador na chapa de Anastasia.
Antes
de Índio da Costa (DEM) ser escolhido vice na chapa presidencial do PSDB, o
presidente nacional do PP chegou a ser cogitado para a vaga. Mesmo assim,
Dornelles alegou que o PP encontrou objetivos comuns ao compor a coligação
petista: desenvolvimento econômico, estabilidade monetária e justiça social.
Além disso, durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, os progressistas
colaboraram com o governo, sendo que o PP participa do Executivo Federal
comandando o Ministério das Cidades, função exercida por Márcio Fortes. Ao
falar de Dilma, Dornelles tece elogios a sua posição estratégica na condução
dos principais programas do governo Lula.
Eleições
2010
Governador
Em
Minas, que é o segundo maior colégio eleitoral brasileiro, o PP garantiu a vaga
de candidato a vice-governador na chapa de Antônio Anastasia. A escolha de
Alberto Pinto Coelho para vaga de vice do governador Anastasia demonstra a
força que o PP tem em Minas, já que a vaga era pleiteada também pelos
Democratas (DEM). Segundo entrevista do governador eleito ao jornal Estado
de Minas em junho, pesou a favor de Alberto o apoio que o PP tem dos
parlamentares mineiros.
Analisando
em âmbito nacional, em geral, pode-se dizer que o partido saiu enfraquecido por
não ter conseguido eleger nenhum governador. No segundo turno, teve a chance de
eleger Neudo Campos, que acabou derrotado por poucos votos em Roraima numa
disputa muita acirrada com Anchieta Júnior (PSDB). O partido amargou duas
derrotas importantes. Em São
Paulo , tradicional estado do PP e terra de Paulo Maluf, o
candidato Celso Russomano ficou em terceiro lugar. Em Santa Catarina , a
candidata Ângela Amim, esposa de Espiridião Amim, perdeu para o Democrata
Raimundo Colombo. Apesar das derrotas, o PP esteve aliado a coligações que saíram
vitoriosas em 11 estados - Amazonas, Acre, Mato Grosso, Maranhão, Bahia,
Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Alagoas e Minas Gerais.
Senadores
Em
2010, o PP conseguiu eleger quatro senadores da República: Ivo Cassol em
Rondônia; Ciro Nogueira no Piauí; Benedito de Lira em Alagoas; Ana Amélia Lemos
no Rio Grande do Sul, reforçando ainda mais o poder do partido no estado. Além
disso, o PP participou de coligações vitoriosas em vários estados, inclusive em
Minas, onde esteve na chapa que elegeu Aécio e Itamar. Na eleição de 2006, o PP
elegeu Francisco Dornelles e ele continua no poder até 2014. Portanto, o
partido cresceu no Senado com as últimas eleições, pois saltou de apenas um
para cinco senadores.
Deputados
federais e estaduais
O
PP conseguiu eleger 41 deputados federais em todo o Brasil, sendo que cinco são
de Minas Gerais: Toninho Pinheiro (179.649 votos), Dimas Fabiano (146.061),
Márcio Reinaldo (124.551), Luiz Fernando (105.422) e Renzo Braz (102.413). É
importante salientar que, em Minas, o PP participou de coligação com PR, PPS,
DEM e PSDB, que elegeu um total de 25 deputados federais, o que fortalece o PP.
Nos estados em que o PP obteve melhor votação foi no Rio Grande do Sul, em que
elegeu seis deputados (Luís Carlos Heinze, Covatti, José Otávio Germano, Renato
Molling, Afonso Hamm e Jerônimo Goergen), na Bahia, com quatro deputados
eleitos (Mário Negromonte, João Leão, Luiz Argolo e Roberto Brito) e três
deputados na Paraíba (Aguinaldo Ribeiro, Eduardo da Fonte e Roberto Teixeira),
no Paraná (Cida Borghetti, Nelson Meuer e Dirceu Sperafico) e no Rio de Janeiro
(Jair Bolsonaro, Júlio Lopes e Simão Sessim).
Nos demais estados, o PP teve uma votação pouco expressiva: São Paulo
(Missionário José Olimpio e Aline Correia), Goiás (Roberto Balestra e Odacir
Zonta), Amazonas (Rebecca Garcia e Carlos Souza) e Distrito Federal (Izalci e
Roberto Fonseca), em que elegeu dois deputados. No Acre (Gladson Cameli), em
Alagoas (Arthur Lira), no Ceará (Padre Zé), no Maranhão (Waldir Maranhã), no
Mato Grosso (Eliene Lima), no Pará (Josué Bengston), no Piauí (Iracema
Portela), em Rondônia (Carlos Margno) e em Tocantis (Lázaro Botelho), o PP
garantiu apenas uma vaga.
Analisando
o cenário, pode-se perceber que o partido tem bastante força no Rio Grande do
Sul, onde elegeu seis parlamentares; em Minas, com cinco vitoriosos e na Bahia,
em que quatro pepistas se elegeram deputados. Deve preocupar a cúpula da
legenda a queda em São Paulo ,
estado que elegeu, em 2010, apenas dois congressistas. Em 2006, o número foi de
seis eleitos no estado.
Para
a Assembleia Legislativa de Minas, o partido conseguiu eleger apenas Gil
Pereira, que obteve 95.450 votos. No entanto, o partido se manteve forte na
assembléia por ter se coligado com o DEM e com o PSDB, coligação direitista que
elegeu um total de 18 parlamentares em Minas. O PP só teve boa votação no Rio Grande do
Sul (sete deputados estaduais eleitos), Santa Catarina e Bahia (seis em cada
estado), e Mato Grosso (cinco deputados para a Assembleia). Nos outros estados,
o PP elegeu um número reduzido de deputados, como no Rio de Janeiro e São
Paulo: três deputados (Amazonas), dois deputados (Rio de Janeiro, Acre, Amapá,
Maranhão), um deputado (São Paulo, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Paraíba,
Paraná, Piauí, Rondônia, Roraima, Sergipe, Tocantins) e nenhum deputado
(Alagoas, Ceará, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Norte).
Votação
no Campo das Vertentes
A
região tem uma situação paradoxal para o PP, já que o Senador pelo Rio de
Janeiro e presidente nacional da sigla, Francisco Dornelles, tem parentes em São João del-Rei. No
entanto, a cidade não tem um diretório do partido. Dornelles é sobrinho de
Tancredo Neves e mantém forte amizade com o senador eleito Aécio Neves. O
último presidente do partido na cidade foi o empresário Fernando Magno.
Procurado pela reportagem, ele não quis contar como foi sua curta presidência
de dois meses e como o diretório acabou.
Sobre
a situação do partido em São
João del-Rei, o prefeito de Santa Cruz de Minas, José Antônio
dos Santos, o Padre, opina que o insucesso do PP na cidade vizinha deve-se a um
“racha” entre Dimas Fabiano e Luiz Fernando, que disputavam a liderança na
cidade. Segundo o prefeito, isso dividiu o partido e enfraqueceu a legenda.
Santos entrou no partido há seis anos, após divergências políticas com seu
antigo partido, o PFL, atual Democratas.
São
João del-Rei é marcada pelos governos atribulados, que envolvem vários
processos judiciais, de Nivaldo José de Andrade (PMDB). O político apoiou o PSDB
nas eleições de 2010, mesmo contra a resolução nacional de seu partido, que
compõe a aliança de Dilma Rousseff. Nivaldo, que já foi do PP, governou São
João por três vezes, não consecutivas, foi prefeito de Tiradentes e deputado
estadual.
Na
cidade, muitos integrantes do PP ainda se dizem de extrema-direita. O
empresário filiado ao PP, José Rivetti Pereira, enfatizou que sempre se
identificou com a ideologia do partido, desde suas origens na Arena. Ao
analisar a política contemporânea brasileira, ele adota tom crítico e afirma
que “o Brasil precisa de uma Revolução como a de 1964. Hoje está tudo uma
bagunça”.
Rivetti,
que é nostálgico, contou que pensa em sair do PP para se unir a antigos
companheiros e refundar o PDS em
São João del-Rei. Analisando governos, Rivetti considera que
Lula teve um bom desempenho no Planalto. O pepista ainda comenta que, após a
saída de Nivaldo do PP, o atual prefeito não realizou bons mandatos.
O
PP é a agremiação de alguns vereadores de municípios da região. As Câmaras Municipais
das cidades de Bom Sucesso e Santa Cruz de Minas, tem, cada uma, um vereador do
PP. Em Passa Tempo ,
Piedade do Rio Grande, Ritápolis e Tiradentes, o número de Pepistas sobe para
dois, em cada Câmara.
História
do partido
O
PP é um partido de contradições, rachas e brigas internas. Esse cenário vem da
criação do PSD, em 31 de janeiro de 1980, após o fim do sistema partidário. O
PDS tinha dentre seus filiados José Sarney e Fernando Collor, dois futuros
Presidentes da República, sendo que o senador maranhense foi confirmado como
presidente do partido em 28 de fevereiro de 1980, cargo que ocupou por quatro
anos. Nas eleições indiretas que culminaram com a escolha de Tancredo Neves e
José Sarney, o partido se dividiu entre o apoio às candidaturas de Paulo Maluf
e Mário Andreazza. Escolhido Maluf, uma parcela do partido se desligou indo
formar o PFL.
A
história da agremiação teve fim em 4 de abril de 1993 quando este se fundiu ao
PDC para criar o Partido Progressista Reformador (PPR), presidido pelo senador
catarinense Espiridião Amin. Dois anos mais, a legenda tarde fundiu-se com o
Partido Popular, criando o PPB e, finalmente, em 04 de abril de 2003, por
iniciativa de convenção nacional, alterou o seu nome para PP (Partido
Progressista).
A
ideologia do PP se aproxima de uma postura de centro-direita. O partido defende
a liberdade das regras de mercado e a não intervenção estatal, ao mesmo tempo
em que advoga por uma ação econômica que leve em conta valores sociais, como a
distribuição de renda, por meio de geração de empregos e do funcionamento da
economia social de mercado. Paradoxalmente, o PP hoje é um dos aliados do PT de
Dilma que defende políticas de centro-esquerda.
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